Dores de Alma

A maternidade, às vezes, dói. E não me refiro às dores físicas, aquelas que por vezes parecem servir de barómetro para premiar o super heroísmo de certas mães. As dores que falo são mais silenciosas, mas não menos dolorosas. São dores de alma. Porque a alma também dói e esta dor é bastante real. 

Dói nos dias difíceis, aqueles que verdadeiramente nos testam e nos deixam no limite. Aqueles em que os pratos da balança se desequilibram e nos fazem perceber que nas nossas batalhas diárias para a perfeição estamos a perder a verdadeira guerra, estamo-nos a perder a nós próprios, mergulhados numa encruzilhada de afazeres que se amontoam em montanhas sem cume à vista. Nesses dias temos vontade de gritar, temos vontade de fugir, temos vontade de sair só um bocadinho e voltar mais tarde. De sentir outra vez a liberdade de podermos ser egoístas e egocêntricos, sem consequências, sem dramas, sem arrependimentos. E quando finalmente o escuro da noite reina, a calma habita cada canto de uma casa agora silenciosa, deitamo-nos na cama, sentimos o peso do cansaço e da culpa apoderar-se do corpo. Porque fomos ingratos nos nossos pensamentos, e o mundo recrimina os ingratos, e a vida tem tendência a castigá-los.


Sim, a maternidade, às vezes, dói. E ainda assim, continua a ser o desafio mais gratificante de todos. Porque depois de um dia mau, acordamos com umas mãos pequeninas a afagar-nos a cara e um corpo quentinho a enroscar-se no nosso abraço, e ainda que seja cedo demais para abrir os olhos, aquele toque enche o nosso coração. E apesar de ser uma esquizofrenia completa, esquecemos-nos de tudo o que ontem era insuportável, como se nunca aquele surto tivesse acontecido, e agarramo-nos a este calor. Porque a maternidade é alimentada acima de tudo por amor, e essa bateria é inesgotável. 


Rui Torres Photography


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