O amor duplica?

Tenho medo de ter um segundo filho. Pronto, disse-o agora, assim cru, directo e real.

Sempre disse que queria ter dois filhos, mas estas são aquelas “decisões feitas”, tal como as frases feitas, que não sabemos de onde vêm nem as razões por detrás, mas assumimo-las como verdades absolutas. Disse-o muitas vezes antes de ter a primeira filha, e depois continuei a dizê-lo, mas comecei a acrescentar mais qualquer coisa que me permitisse justificar uma distância temporal para isso acontecer. Algo como, “sim, quero ter mais um, mas ainda não, quando a unicórnio for maior um bocadinho”. Talvez isto funcionasse como um mecanismo de defesa, não assumido, que já camuflava um receio crescente sobre um assunto. Talvez fosse também a maneira mais fácil de responder à pergunta que anda na boca de toda a gente quando o primeiro filho atinge aí um ano de idade: e então, quando vem o maninho/a? Grrrrrrr…..
Como em tudo, o receio vem repleto de questões, de dúvidas e angústias. Os “e se” que nos limitam os planos e nos fazem fraquejar os joelhos.
E se eu não gostar tanto do segundo filho como gosto do primeiro? É um amor tão forte, tão arrebatador, tão diferente. É sentirmos o coração a transbordar. Esse amor multiplica-se? Isso é possível?
E se eu não tiver paciência para gerir uma casa com 2 crianças, um casamento e uma vida profissional intensa?  Há dias em que a calma esgota, o lado de “bad mom” dispara sem que o consiga retrair, os gritos sobem uns decibéis, e o sentimento de culpa angustiante instala-se. E se esses dias se multiplicarem e eu não for capaz de os conter?
E se a gravidez, o parto e tudo o resto não correr bem? Este é talvez um dos receios mais irracionais, mas dos poucos que verbalizo frequentemente. E, na realidade, a primeira experiência foi boa, correu tudo bem, sem percalços, sem histórias más e assustadoras. Mas então, porquê tanto medo de repetir tudo?
E se não conseguirmos gerir uma nova economia, e deixarmos de poder fazer coisas que nos dão prazer e alegrias: os jantares, os fins de semanas, as férias? Admito, este é talvez o receio mais fútil, mas não menos válido. Gostaria de repetir as oportunidades que a primeira teve, conseguir manter uma justiça de equivalências. Mas, e critiquem à vontade a visão fria, ter uma criança acarreta também custos, e é preciso uma ginástica económica para isso. E senão conseguirmos?
A lista de “e se” é interminável, porque sou muito boa a encontrar uns quantos sem ter de fazer grande esforço.
Mas depois, o pensamento foca-se nas coisas boas e tenta projectar uma realidade onde todos estes receios são ultrapassados, e tudo ganha uma nova forma. As gargalhadas iriam duplicar, os miminhos e abraços iriam duplicar, os inícios de manhã na cama seriam mais preenchidos. A unicórnio ia saber verdadeiramente o que é ser irmã, e não apenas a visão imaginária que criou. O Papa Bear ia poder continuar a fazer aquilo que ele sabe fazer muito bem, ser um grande PAI (e ainda ganhava mais um modelo fotográfico de acesso ilimitado). E eu, ia poder sentir novamente aquela ligação que só uma mãe tem, e sentir o cheirinho de bébé que arrebata qualquer coração.

Mas, e se o amor não duplica? E se eu não for capaz?


Ruitorresphotography


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