Onde fica o romance?

A decisão de ter um filho é, talvez, a mais arriscada que um casal pode ter, seja este risco consciente ou não. Talvez o facto de não sabermos a 100% o que ser mãe/pai, até o sermos verdadeiramente, seja até bom. Suspeito que de outra forma muitos de nós iriamos abortar a missão ainda antes de a começar.
As mudanças que estas pequenas criaturas provocam no nosso dia-a-dia são tantas, que às vezes temos dificuldade em nos lembrarmos de como eram as rotinas e os dias antes de eles existirem. Envolvemo-nos de tal forma nesta nova vida, que acabámos por pôr de lado coisas que antes eram importantes e parte das nossas rotinas.
De repente, uma casa que era ocupada por dois, passa a ser ocupada por três. O sofá que antes servia praticamente de cama, desaparece debaixo de mantas, fraldas, toalhitas, e pequenos ninhos improvisados com almofadas. A banca da cozinha onde antes juntávamos loiça de 2 dias enche-se de biberões, talheres, pratos e copos de plástico. O lavatório do WC onde antes moravam apenas duas escovas de dentes é repovoado com creme de corpo, creme de cara, creme de rabinho de bébé e outros que tais. E o quarto, antes reino do sono (e do amor) passa a ser o reino da pequena criatura onde o sono por vezes é raro, e o amor é um tanto diferente do anterior.
E no meio de todas estas alterações, onde fica a vida a dois? Onde ficam as manhãs de preguiça na cama, os almoços despreocupados, os jantares tardios e as noites de filmes no sofá? Onde ficam os dias sem horários, sem planos, sem rotinas?
Nesta nova vida, tão fantástica e tão absorvente, é difícil por vezes lembrarmo-nos que antes de haver uma família de três, havia uma família de dois, um casal. E é também um desafio ser capaz de guardar um bocadinho dessa vida a dois e vivê-la de vez em quando.
Pode exigir programação, e talvez a espontaneidade e liberdade estejam um pouco comprometidas, mas isso não será o mais importante. O que realmente importa é que sejamos capazes de preservar um pouco desse romance, manter sólida a relação que foi a base de tudo. Porque no futuro, quando a nossa missão como pais passar para o estado de observação, o centro volta a mudar, e nessa altura vamos perceber que esta relação é verdadeiramente importante.


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Comentários

  1. O Romance foi vivido antes e poderá ser sempre vivido usando algum planeamento. A vida com filhos não tem de obrigatoriamente matar o Romance, mas completa o casal e enche a união que passa de dois para três ou quatro ou mais... É tão bom ter o sofá desarrumado, a casa cheia de barulho, de música, de alegria. E um dia os filhos vão, e se o casal for mesmo um Casal, o Romance volta, mais maduro, mais sereno e mais completo. 😘

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    1. Nunca será fácil conciliar tudo, todas as tarefas, responsabilidades e desafios.

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