(im)perfeita

Sou uma perfecionista, que apenas recentemente percebeu que o perfecionismo não é uma vantagem, mas sim algo patológico e um bom objecto de terapia.
Se por um lado o meu perfecionismo permitiu-me ir para além das minhas capacidades,  procurar ser mais e melhor, esses mesmo perfecionismo foi criando um constante sentimento de insatisfação, de frustração e ansiedade, que a longo prazo se foi tornando num problema de dimensões consideráveis.
A maternidade não foi uma excepção. Também aqui apliquei todas as minhas capacidades para tentar ser o mais perfeita possível, e talvez neste campo tenha levado a maior lição de todas.
Apliquei-me nas aulas de preparação para o parto e treinava em casa as respirações e os kegels todos que nos ensinavam. Cheguei a hora H e nem respirar consegui, quanto mais inspirar e expirar calmamente.
Li tudo o que me aparecia a frente sobre o primeiro ano de vida: como amamentar, o que comer ou não comer durante a amamentação, como embalar o bébé, como fazer massagens, como o pôr a dormir, como dar banho… A Unicórnio teve cólicas nas mesma, deu noites difíceis, e foi o pai que lhe deu banho nos primeiros meses, porque sabia fazê-lo melhor que eu.
Voltei ao trabalho e apliquei-me em conseguir equilibrar a vida laboral com uma nova vida familiar. Trabalhar o dia inteiro mas chegar a casa e ter toda a disponibilidade mental e física para cuidar e educar de uma criança. Ultrapassar o cansaço e manter a paciência. Tive (e tenho) dias em que falhei redondamente nesta tarefa, em que o cansaço levou a melhor e a paciência sumiu-se para não mais ser encontrada.
No meio de todas estas batalhas, estava uma bébé que foi crescendo normalmente, que se desenvolveu como todas as outras crianças, e que hoje é uma tagarela que nos surpreende todos os dias com novas façanhas.
E finalmente o meu perfecionismo foi-se dando por vencido, finalmente percebi que ser a mãe perfeita, a profissional perfeita, a mulher perfeita é uma missão impossível. Que os dias sem paciência vão continuar a acontecer, que a Unicórnio não vai sempre comer a sopa, que vai ter pingo no nariz de vez em quando, e que me vai envergonhar em público com uma birra. Mas que também me vai abraçar, dar um beijinho e dizer que gosta muito de mim, naquele jeitinho fofinho e mimado dela. E, no final das contas, isso é tudo quanto basta para fazer de mim a mãe mais (im)perfeita deste mundo. E também a mais feliz.

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