Angústia

Em tempos de incerteza, estar à espera de algo, que sabemos que vai acontecer mas não sabemos quando, é angustiante. Podia estar a falar de quando vai esta pandemia estar controlada, de quando vamos poder sair livremente de casa sem medo, ou de quando vamos poder abraçar os nossos sem qualquer reserva. Porém, neste momento, além de todas estas questões, a que mais me agustia é a espera pelo parto.

Eu sei que devia estar mais relaxada, afinal não é a minha primeira experiência, já passei por esta situação e ainda para mais foi uma experiência boa, sem sobressaltos, sem horrores para contar, tudo correu bem. Então porquê este medo, esta angústia, que por vezes me deixa à beira de lágrimas?

Há uns meses, antes de toda esta situação, numa conversa verbalizei pela primeira (e talvez única vez) uma das principais razões para este receio ser ainda maior da segunda vez do que da primeira. E a razão é a Unicórnio. Tenho um medo paralisante que algo me aconteça, de não estar cá, de não acompanhar o seu crescimento…é irracional, eu sei. Seria mais lógico ter medo que algo aconteça ao bébe, esse costuma ser o centro de todas as preocupações e até pode parecer egoísta ou negligente que pense em mim, mas se o medo fosse algo racional conseguiríamos controlá-lo e não o sentir, certo? No meio de toda esta incerteza, e quando me sinto mais deprimida (que levante o dedo a primeira que ainda não se sentiu um pouco deprimida nestes últimos tempos) estes pensamentos aparecem em catadupa, e agora exacerbados por esta maldita pandemia, fazem-me ficar a olhar para o tecto às 5 da manhã a sentir-me perdida e à beira das lágrimas, ou provocam uma vontade louca de abraçar a Unicórnio e nunca mais a largar.

Uma das coisas que me reconfortava um pouco era saber que não ia estar sozinha no parto. Que o Papa Bear ia estar ao meu lado, a segurar-me a mão, a acompanhar cada minuto do acontecimento, naquele jeito seguro e relaxado que só ele consegue, que por vezes me enfurece, mas que quase sempre me acalma. Ficar a saber que ele não vai poder lá estar tirou-me o chão. A minha parte racional entende perfeitamente a medida, a minha parte emocional só gostaria de poder adiar o nascimento para daqui a uns meses, para ele lá estar. Não é justo. Nada disto é justo.

Ainda assim, nos dias em que a alma está mais solarenga, resigno-me e aceito que não há nada que possa fazer para mudar a situação, que não tenho qualquer poder nela, e repito mentalmente e em modo non-stop o mantra que todos adotamos (e do qual, confesso, começo a fartar-me): vai ficar tudo bem. Por que nesta fase, o melhor que temos é a nossa fé, a nossa esperança. E eu tenho uma fé enorme que esta pequena esperança que está dentro da minha barriga vai-nos trazer mais alegria, mais amor e muita mais cor a estes dias tão sombrios.

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